Descrição
Seja na minha trajetória acadêmica, no meu percurso como espectador ou – mais recentemente – como crítico, a relação entre o cinema e a política tem se constituído como uma questão – de pesquisa, de cinefilia e de afeto – inescapável. Em seus variados pontos de contato e tensão, em suas múltiplas nuances, esse intrincado binômio foi se impondo como um objeto de curiosidade, de desejo, e terminou por configurar o norte da investigação que empreendi na dissertação que dá origem a este livro .
Embora a consciência da amplitude desse campo problemático tenha algo de perturbador (mais do que tema a ser discutido no mestrado, talvez seja um assunto para toda uma vida), a decisão de enfrentá- lo nesta pesquisa acabou por se revelar, no fundo, como a única escolha possível. Realizar um recorte, estabelecer uma direção particular de investimento tornou-se um gesto ao mesmo tempo doloroso e absolutamente necessário. Embora seja uma discussão difícil de rastrear – uma vez que a variação conceitual é enorme –, a relação entre o cinema e a política foi inúmeras vezes colocada em questão, tanto pela teoria quanto pela crítica cinematográfica. Historicamente, as definições acerca da vinculação entre os dois termos a acentuaram ora a afinidade, ora o conflito entre eles. As defesas variaram da urgência premente de uma politização da forma cinematográfica à necessidade de uma separação radical entre os domínios estético e político. Em cada um desses momentos, tanto a questão fundamental de Bazin (o que é o cinema?) quanto aquela de Aristóteles e tantos outros (o que é a política?) permaneceram como um problema, e receberam respostas das mais variadas: seja de forma explícita – e em diálogo com outros campos de pensamento –, seja de maneira inadvertida, mas ainda assim subjacente às análises.
Diante do interesse crescente em torno dessas relações atualmente – e dos impasses que também permeiam um terreno movediço –, nossa pesquisa busca estudar algumas figurações da cultura hip hop no cinema brasileiro recente, tendo em vista a formulação de uma visada teórico-metodológica sobre o estatuto político do cinema documentário e buscando investigar as possibilidades e dilemas da constituição de gestos políticos em diferentes filmes. Tomando como objetos de análise Aqui favela, o rap representa (Júnia Torres e Rodrigo Siqueira, 2003) e L.A.P.A (Cavi Borges e Emílio Domingos, 2007), buscamos investigar as modalidades políticas que os habitam, levando em conta as diferentes conexões entre as formas singulares dos filmes e as representações hegemônicas que constituem o contexto contemporâneo do hip hop no Brasil. (Victor Guimarães)
Victor Ribeiro Guimarães
Graduado, Mestre e Doutorando em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. Crítico da revista Cinética, ex-professor da graduação em Cinema e Audiovisual do Centro Universitário UNA e integrante do grupo de pesquisa Poéticas da Experiência (UFMG).
Cena sobre cena
Em busca da cena
Das origens
A outra cidade e o “holocausto urbano”
Periferia é periferia
A fúria negra ressuscita
A contraparte das narrativas hegemônicas
A cena contemporânea
O devir político do documentário
Políticas da forma cinematográfica
Trânsitos contemporâneos: estética e política
Identidades e processos de subjetivação
A intermitência política do documentário
Desafios contemporâneos
Aqui favela, o rap representa
Aqui favela: cartografias da palavra e do lugar
O rap representa: montagem e enunciação coletiva
Políticas da performance
L.A.P.A entre o consenso e o dissenso
O hip hop carioca segundo L.A.P.A.
Entre a encarnação e o mimetismo
A voz do outro (?)
A desidentificação como potência
Políticas da singularidade qualquer
Considerações finais: O que pode um filme?
Título: O hip hop e a intermitência política do documentário
Autor: Victor Ribeiro Guimarães
Editora: Fafich/Selo PPGCOM/UFMG
Cidade: Belo Horizonte
Ano de publicação: 2015
Edição: 1ª
Número de páginas: 222
Formato: PDF
ISBN: 978-85-62707-70-4