Dissertação

Fissuras no espelho realista do jornalismo

A narratividade crítica de Barcelona

Phellipy Pereira Jácome

O jornalismo nos provoca, nos fascina, nos incomoda e interpela. Fenômeno complexo e multifacetado constitui-se como uma das principais formas de mediação e de configuração de realidades na contemporaneidade. O jornalismo nos ajuda a saber o mundo, a significá-lo e, por isso, o que pretendemos neste trabalho é refletir acerca dos seus modos peculiares de agenciamento do real. Isso será feito com vistas a um enfrentamento teórico em relação a alguns pressupostos dominantes em nosso campo de estudos, a partir de um produto jornalístico tensionador: a publicação argentina Barcelona. Este periódico nos surge como um fenômeno instigante,  pois emprega recursos metanarrativos, isto é, construções textuais  que implicam numa reflexão sobre o próprio fazer jornalístico, seja através de menções diretas aos modos de produção ou pela utilização provocadora de alguns recursos expressivos. Com uma linguagem cortante e um forte tom político, Barcelona é capaz de trabalhar algumas dimensões conflitivas existentes nas narrativas jornalísticas, insinuando fissuras no espelho realista e questionando a ideia de uma realidade única e objetiva.

Para entendermos a narratividade crítica de Barcelona, iremos  percorrer algumas matrizes teóricas, buscando compreender diferentes perspectivas de abordagem dos fenômenos jornalísticos. Como perceberemos nas primeiras seções, existe uma forma de concebê-los por sua suposta capacidade de reproduzir o real, como se existisse um mundo fixo e apreensível para além da linguagem. Esse tipo de perspectiva é hegemônico em manuais de redação, códigos de ética jornalística e princípios editoriais, sendo também recorrente em muitas teorias que apregoam a existência de uma fórmula jornalística, isto é, um modo de ser ideal que desemboca em estratégias textuais. Nessa concepção, há uma defesa do fato puro e da ideia de que ele deveria ser duplicado nas páginas do jornal, motivo pelo qual parece haver pouca ou nenhuma atenção à temática da narrativa e do texto, encarados como meros instrumentos. Essa concepção, como veremos, é fruto de um conjunto de valores bem delimitados, como uma noção única de verdade, de realidade etc. Entretanto, o exame histórico do aparecimento do jornalismo nos permitirá perceber que nem sempre a “verdade” esteve amparada por critérios de objetividade ou factualidade, o que gera uma problematização interessante e exige novos modos de compreensão.

  1. Jornalismo: do espelho às comunidades interpretativas e seus agentes
    1. Reproduzir o real: o jornalismo como um único modo de ser
    2. A narratividade
  2. O jornal entre a familiaridade e o estranhamento
    1. O jornal como um lugar de experiência familiar
    2. Uma solução europeia para o problema dos argentinos
    3. Barcelona e sua conformação verbo-visual
  3. Convenções jornalísticas entre tessituras e tensões
    1. Das convenções
    2. Convenções jornalísticas
    3. A questão da verbo-visualidade
    4. Das tensões
  4. A narratividade crítica de Barcelona
    1. Barcelona e o nome do jornal
    2. E a manchete?
    3. Chamadas secundárias: outras entradas para o jornal?
    4. Depois da capa: como Barcelona tece suas notícias?
    5. As unidades informativas de Barcelona
  5. O jornal como porvir: interseções entre o mundo do texto e o mundo do leitor

Phellipy Pereira Jácome

Doutor em Comunicação Social pela UFMG (com estágio doutoral na University of Illinois at Urbana-Champaign, como bolsista Capes-PDSE). Mestre e bacharel em Comunicação (habilitação Jornalismo) pela mesma instituição. Pesquisador do Núcleo de Estudos Tramas Comunicacionais: narrativa e experiência.

Título: Fissuras no espelho realista do jornalismo: a narratividade crítica de Barcelona

Autor: Phellipy Pereira Jácome

Editora: Fafich/Selo PPGCOM/UFMG

Cidade: Belo Horizonte

Ano de publicação: 2015

Edição: 1ª

Número de páginas: 291

Formato: PDF

ISBN: 978-85-62707-73-5

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